Me peguei sentindo raiva do amor. O que todo mundo acha que é o amor, na verdade. Casais fofos se abraçando no cinema. Casais feios de mãos dadas. Casais suados se beijando embaixo de um sol de meio-dia. Essa necessidade infantil de ter alguém por perto durante todos os instantes de uma vida me causa certa repulsa. Sinto, porque quem não ama também sente, que as pessoas ruminam relacionamentos, enquanto eu os regurgito. Se submeter a uma falsa cumplicidade não é a solução para a insatisfação pessoal. Até porque a plenitude de uma satisfação é completamente utópica, principalmente se tratando de seres inferiorizados por não saberem lidar com a solidão. A ansiedade do vazio se torna prazerosa com o tempo e eu, definitivamente, não acredito nas emoções de uma estabilidade monótona, de uma comodidade mórbida. O isolamento é uma espécie de compulsão e há quem diga que isso é loucura. Loucura é se propor a breguisse de um suposto romantismo para sentir o ego um pouco menos dilacerado.