quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cigarro de chocolate


Nem tudo cheirava a lavanda, mas não há como negar que as imagens se tornaram melancolicamente nostálgicas. É como colecionar desgraças, conservando-as em um potinho de mentiras, para observá-las depois. Só observá-las. Tecer histórias em becos sujos e ruas sem saída. Labirintos psicológicos em meio quarteirão de felicidade. E se valia a pena, não era para mim, pois eu estava enclausurado em uma infância. Estaria para sempre a partir do momento em que me arrancariam de lá. O fizeram de tal forma, abrupta, que a minha memória permaneceu naquela última noite: caixas pardas empilhadas e minha bicicleta sendo vendida. Seria, então, a última vez que eu poderia olhar para um espaço considerado lar. Aquelas paredes sempre ocupadas por quadros pintados por meu avô e pratinhos ingleses de minha avó. Até parecia inusitado como aquela louça, meticulosamente posicionada, preenchia a sala com um fôlego. E os elementos se tornariam a minha fixação. Isto aqui não tem carpete cinza desbotado. Isto aqui não é lar. Ainda acho que me enganaram naqueles últimos dias, do pouco que me lembro, parecia iludido. Como se tivessem me dito que seriam somente férias de verão. Essas férias nunca acabaram, e eu odeio o verão.

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