quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Não revisado


Sem que eu precisasse apertar a campainha ou bater, a maçaneta girou. Seu rosto apareceu em um palmo de porta aberta, enquanto seu corpo se escondia de mim. Então ela sussurrou:

- Pode entrar.

Abro a palma da mão sobre a porta, empurrando-a.

- Não quero tomar seu tempo.

- Então tome meu espaço – Disse ela me dando as costas.

Parecia que havia retornado a pouco de alguma festa. Usava um vestido preto de cetim que a merecia e maquiagem para disfarçar a idade.

Era uma sala incandescente, com largas janelas, um sofá e um abajur de leitura. Só.
Sentou-se no sofá, cruzando as pernas, enquanto procurava com os olhos seu maço de cigarros.

Eu ainda estava em pé, encarando-a, devorando-a. Peguei dois cigarros no bolso da minha camisa e fui a sua direção. Coloquei um deles em sua boca e outro na minha. A fiz esperar. Só assim eu podia controlar seu desejo. Acendi e me sentei ao seu lado. Senti seu perfume misturado com suor.

- Quer dizer que você decidiu voltar?

Ela respondeu sem pressa:

- É que a vida é longa demais. Dá tempo de ser e deixar de ser.

- O que você deixou de ser?

(silêncio)

Ela se levantou e falou, sem que eu pudesse ver seu rosto:

- Você sabe que sou muito mais velha.

- Sim.

- Então por que está aqui?

- Na verdade, você pediu. - Sussurrei.

Deu um último trago e jogou o cigarro ainda aceso pela janela.


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